Em Capitão (Giz Editorial, 2011, R$24,90), acompanhamos a visão de um homem sem memória retorna
para sua casa, guiado pelas informações obtidas na rua. Também descobre, além
de sua moradia, que não foi uma pessoa muito digna. Durante a leitura,
vemos as lembranças do Capitão, através de sua narração de como tudo é uma
descoberta “trágica” de seu passado desumano. Descobre seu filho, mas esse não
é o único e nem sua família verdadeira,
que sofre pela ausência do pai. Depois encontra a esposa real, e a vê com
semblante de sofrimento, medo, assim como o cachorro que corre ao avistá-lo.
Triste verdade de uma pessoa que se percebe, enfim, má.
"Minha expressão nas fotos reforçava a impressão de um homem embrutecido, polido em lixa grossa, zangado com tudo o que a vida lhe reservara sem reservas”.
Acompanhamos a visão do Capitão
e por sua narração demonstra sofre todos os dias, a cada “descoberta” de sua
maldade, da crueldade que cometia com todas as famílias.
"– Isto é um crime... – eu dizia, enquanto Pedro tentava me convencer que levar as garotas do mangue para trabalhar em prostíbulos era melhor para elas do que permanecerem na ilha”, pág 69.
Mas não basta somente falar de
bondade, é preciso mostrar, provar com ações, para tantas pessoas que sofreram
nas mãos do Capitão, que ele quer realmente mudar, e os olhos dos demais não
mentem quando o assunto é sofrimento. A tristeza, a maldade cometida por tanto
tempo está estampada no rosto de cada morador da ilha. Nos pais que tiveram suas
filhas levadas para uma vida que ninguém sabe como é.
O Capitão sofre para
demonstrar que não é mais o mesmo. Que quer ajudar a todos a melhorar de vida. Não há fantasia, somente a tristeza real de todos os personagens.
Há tantos e tantos que fazem e
passam por histórias semelhantes, mas não têm tempo de mudar o curso. Sergio
Prado (1970) criou uma história envolvente, podemos tomá-la por real, quando da busca
por boas ações depois de tantas más cometidas ao longo de uma vida.
*****
*****
Entrevista
Mundo de Fantas: Como foi
escrever "Capitão", conte-nos o processo e as inspirações.
Sergio Prado: A ideia que
originou Capitão, partiu do interesse que sempre tive sobre o assunto amnésia.
Certa noite eu sonhei que eu acordei em um local sem saber quem eu era, e isto
inspirou a trama. No dia seguinte já comecei a escrever Capitão, e, a partir do
nada, criei a vida que o Capitão teria que descobrir. Podemos dizer que fui
descobrindo junto a ele enquanto eu ia escrevendo. Tentei não criar nenhum
vínculo comigo mesmo, fazendo com que o enredo se desenrolasse em locais
distantes, em um povoado de uma ilha que eu inventei, baseando-me na rotina
cotidiana dos manguezais brasileiros.
Narrei a história em primeira
pessoa, pois creio que assim, por ser póstuma, eu alcançaria uma riqueza de
detalhes e sentimentos importantes, se narrados pelo protagonista.
Espero, com este livro, abrir
caminho para o próximo que estou escrevendo para 2012, e que sairá pela Editora
Regência. Tentarei lançá-lo a tempo para a bienal de SP. O título será “Pra
Você Viver Mais” e contará com a epígrafe de “Canção Pra Você Viver Mais” do
Pato Fu... Consegui a autorização da banda para a utilização de trecho da
música na epígrafe, sem nenhum ônus, após análise dos primeiros capítulos.
Fiquei muito contente, sei que é difícil conseguir estes avais. Vi nesta
autorização, um primeiro reconhecimento do que será um livro que de tão
intenso, às vezes, tenho que parar e ficar alguns dias sem escrever.
MdF: Deixe dicas de leitura,
pode ter a ver com o assunto do livro e outros que achar importante indicar para
seus leitores.
SP: As dicas que eu deixo para
leitura não são muitas... Vou indicar apenas meus 5 favoritos:
Grande Sertão Veredas: Guimarães Rosa, em minha opinião, foi o
autor brasileiro com maiores recursos de escrita que já existiu. Ele era gênio!
Muitos de seus livros não tem nem como traduzir para outros idiomas devido às
aliterações que ele criava como ninguém nunca fez.
Dom Casmurro: Machado de Assis dá uma aula de como tornar uma
história com acontecimentos extremamente simples, num livro genial, por meio de
uma narrativa rara.
A Coronel Chabert: Honoré de Balzac, livro extraordinário deste
autor francês que foi uma referência de ninguém mais do que Machado de Assis. Mulher de Trinta Anos: Também do Honoré
de Balzac. Neste, a sensibilidade do autor ultrapassa os limites! Devia ser
proibido escrever como ele escreveu este livro (brincadeira). Este é outro
livro sem grandes surpresas no enredo; trama simples que espanta pelo modo
ímpar com que é narrado. Gosto das pinturas que o retratam: era um tipo, que
pela aparência, podemos julgá-lo inapto ao talento que carregava (isto mostra
que talento não escolhe aparência). Costumava posar com uma mão no coração e a
outra esticada, como a declamar apaixonadamente um verso a alguém... Só faltava
ajoelhar-se. Imagem muito brega, mas o gesto revelava um autor que era a pura e
fina sensibilidade.
Amnésia é um assunto muito interessante mesmo!
ResponderExcluirImagina vc acordar um dia e não lembrar nem do seu nome?!?!
Que estranho!
Depois, descobrir que vc é a pior pessoa do mundo e que todos te odeiam....
OMG!
Que triste!
Pelo menos ele quer mudar!
Tomara que no fim, ele alcance seu objetivo!!!
O livro é muito bom, recomendado =)
ResponderExcluirEu já li Capitão e amei. Livro muito bem escrito e a trama é envolvente e comovente.
ResponderExcluirTambém recomendo como sendo um dos melhores que já li.
bjusss!
O interessante é pensar se verdadeiramente ele quer mudar, pois se está com amnésia como determinar se aquele que retornou é realmente o verdadeiro capitão? Se você não lembra quem é como pode se redimir por algo que não sabe e sequer se identifica com a situação?!
ResponderExcluirEste é que foi a grande sacada do livro: ele ir se descobrindo por meio de outras pessoas e não concordar com o que ele fazia e até sofrer quando começa a saber de tudo o que ele fazia.
ResponderExcluir