A visão do Livro. Isso mesmo, ao ler, acompanhamos a história pelos olhos de certo volume – não explica qual exatamente seu título e autor, mas fica ali, perto de Hemingway – e suas frustrações de não ser escolhido pelos leitores, de permanecer por muito tempo abandonado na prateleira. Alguns passam próximos à sua estante, outros o tiram de lá, mas às vezes o devolvem.
“Estava tão satisfeito em ter o meu espaço no centro da cidade. Numa loja onde os donos e os vendedores leem você, conhecem os segredos guardados”.
Hoje não é assim, poucas vezes encontramos em livrarias atendentes leitores. Muitos não conhecem os best-sellers do momento, imagina então os grandes clássicos?! Uma triste realidade de um Brasil que quase não lê.
As estatísticas apontam que o brasileiro lê 1,8 livros por ano, imaginemos então, quantos milhões de pessoas nem sequer têm o interesse em dedicar algumas horas a esse nobre prazer que é a leitura!
A leitura não é para classes, ler é para quem tem interesse e ponto.
Reclama-se do valor do livro. Mas não há muitos leitores no Brasil para mudar, diminuir o preço. Não podemos comparar com Estados Unidos, leitores e valores – sempre uma referência em tudo o que se faz aqui, infelizmente –, onde ler é mais do que obrigação, desde sempre mostram às crianças a importância, em casa, na escola, universidade e assim vai. Por isso o valor é tão inferior aos daqui, há leitores.
Mas os dias passam, o Livro consegue algumas companhias, e que seu objetivo seja alcançado, ou seja, ser lido. Ele teve mais de um dono, mais de um leitor durante sua história. Porém, ainda assim poucos. Uma obra merece ser lida e divulgada, espalhada. Muito têm aquele livro secreto, que querem guardar para si, e a maioria dos leitores de verdade querem gritar para todos encontrei um novo e incrível livro, leiam, leiam!, porém, quase sempre esse grito se faz frustrado. Há alguém ouvindo?
Deixar um livro abandonado na estante apenas para mostrar a possibilidade de um leitor que não o é, é fácil. Compremos uma enciclopédia e uma estante bonita para mostrar a todos nossa casa e/ou escritório intelectual, mas onde se encaixa o momento da leitura real? Não digo para ler somente livros da moda ou clássicos, leia o que quiser, mas leia. Tire o livro da estante e sente-se numa praça, na cama, ou em seu lugar favorito e leia, dê esse prazer a você e ao livro, ele existe, ele vive.
“O trauma da televisão é uma lembrança animadora. Se consegui superar uma coisa dessas, posso então enfrentar de cabeça erguida qualquer contagem regressiva. Que aliás, repito, ainda não é definitiva. Pois lutarei com todas as minhas forças para sobreviver”.
Dez mil – a autobiografia de um livro (Editora Rocco, 2003, 84 páginas, R$24) é simples, rápido, encanta e prende, mostra a tristeza de um livro abandonado e a alegria de um livro lido, uma obra que saiu da estante para existir, afinal, não é depois que o autor conta em papel sua história que ela passa a ser, na verdade ela só está viva se for lida. Um livro abandonado existe apenas para si, e isso é como a morte.
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Editora: Rocco
Título original: Diecimila
Tradutor: Mario Fondelli
ISBN: 8532519229
Ano: 2005
Páginas: 84
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Sobre o autor
Andrea Kerbaker nasceu em 1º de outubro de 1960 em Milão, Itália, onde vive hoje com a mulher e três filhos. De formação humanista, Kerbaker desde 1985 vem trabalhando na área de comunicação de grandes empresas italianas nas quais sempre promoveu o incentivo de projetos culturais. Atualmente exerce essa função na Telecom Itália. Estreou como escritor de ficção em 1996 com Fotogrammi. Além de Trinta e Três e 1/3, Autobiografia de um Disco, lançado agora no Brasil pela Rocco, é também autor de Fotogrammi, pelo qual ganhou o Prêmio Bagutta em 1997 e Pater Familias. É também tradutor de livros em várias línguas e colaborador do jornal Corriere della Sera.
Que resenha encantadora, assim como o desabafo. Lerei este livro. Beijos lindinha.
ResponderExcluirObrigada, mocinha! *.* O livro é simples, de uma leitura rápida, e é muito válido, faz pensar nessas questões do livro abandonado. Recomendado mesmo! =)
ExcluirBastante interessante a idéia de ver a história do ponto de vista de um livro *-* Entendo perfeitamente o seu desabafo Celly e concordo plenamente. Ler é uma dádiva e quem não o faz n sabe o q está perdendo...
ResponderExcluirDiferente, né?
ExcluirÉ... alguns até têm orgulho de dizer que não gostam de ler... triste.
Hahaha, que ideia maneira! Pena que tenha tantos outros livros na fila. T__T
ResponderExcluirÉ um livro pequeno, em 1h você lê =)
ExcluirBem, já estou lendo "Livraria Limítrofe" de Alfer Medeiros. Daí a passar à visão de um livro abandonado, parece-me uma boa ideia continuar nesse universo livresco, né? Obrigada pela dica e pela resenha impecável! =)
ResponderExcluirObrigada! *.*
ExcluirÉ um livro leve, leia e depois nos conte o que achou. =)
É uma grande verdade, quando se resenha um livro, vamos dizer esquecido, que já foi best-seller, ninguém comenta, ninguém liga porque não é o livro da moda. Pena, porque livro não é modismo e sim um habito inteligente que se adquiri na juventude e se leva para a velhice como um presente para a solidão. Os livros são parte de tudo que vivemos, do que somos. O silêncio barulhento das palavras escritas, fechada entre duas capas e acessível aos que os amam.
ResponderExcluirIsso é bem verdade! Muitos só querem saber dos livros da moda, esse mais "leves" sem muito conteúdo. Não acho ruim, pelo contrário, é uma porta de entrada para o fantástico mundo dos livros... bons, rsrsrs. O problema é quando o leitor insiste em ficar somente nesses livros e não descobre os outros.
ExcluirAdorei essa ideia de uma autobiografia de um livro! Sempre imagino, quando compro livro de sebos, quantas histórias eles devem saber, pessoas que tocaram nele etc e agora conheço um que justamente fala dessa minha curiosidade.
ResponderExcluirSim, é uma visão incrível, também imagino isso, quem leu, por que leu, por que o abandonou, como é o primeiro leitor... =)
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