19 de jul. de 2008

Resenha: A flor da Inglaterra – George Orwell

Gordon Comstock, 29 anos e bastante deteriorado. Trabalhava numa livraria/sebo. Durante toda a sua vida literária conseguira escrever apenas um livro de poesia que por destino encalhara na prateleira.

Há anos estava diante de sua nova obra, inacabada, “Prazeres de Londres”. E há anos declarara guerra ao dinheiro, além de todos que restavam de sua falida família. Gordon era o único que tivera chance de prosperar, mas se recusava a vender sua alma ao capitalismo. Tivera um bom emprego numa agência de publicidade, mas a questão de ter um “bom” emprego feria os seus princípios,
o que o levou a abandoná-lo.
“Os consumidores são como porcos confinados, a publicidade é o equivalente a agitar uma vara dentro do balde de lavagem”, acreditava.

Agora trabalhava na livraria/sebo – praticamente falida – e o que ganhava semanalmente mal dava para sobreviv
er, mas este era exatamente seu ideal de emprego, já que sua alma não estava à venda para o deus-dinheiro.

A vida de Gordon se resumia em ir para o miserável emprego, voltar para o quarto – decadente – em que morava e brigar com todos pela questão dinheiro, declarando guerra especialmente a uma planta: a aspidistra, que simbolizava a decadência da classe média inglesa, visto que esta era uma planta bastante comum nos lares da época.


As pessoas se preocupam com coisas pequenas. Com os detalhes errados, mas que se tornam grandes à medida que se dá o valor indevido, mas as únicas coisas que importam em uma semi-vida mesquinha.
“Será que eu ri bem alto quando o chefe fez aquela piada ontem? E a próxima prestação do aspirador de pó?”

Esses pensamentos atormentavam Gordon, que às vezes saia da ilusão de que alguém leria seus poemas e que “Prazeres de Londres” jamais ficaria pronto.

A bem da verdade o que mais o angustiava era a falta de dinheiro. Praticamente só pensava nisso. A maldita falta de dinheiro!

E por isso, talvez a insistente vontade de matar sua aspidistra seria, na verdade, uma forma de demonstrar que precisava que sua condição financeira mudasse.


Uma crítica muito bem escrita, recomendada para quem gosta de grandes obras e histórias que falem de livros.

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306 páginas
Tradução de Sergio Flaksman
Ed. Companhia das Letras
Keep the aspidistra flying
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2 comentários:

  1. @cyberlivingdead22/01/2012, 12:59

    Mas realmente é fogo como ainda temos que sacrificar horas, que nunca retornaram, em nome de algo que nos é penoso e indesejado. É uma infelicidade também perceber como existem pessoas que se tornam escravos de bom grado e ainda fazem questão de ficarem sorrindo pra parecerem que estão felizes (já percebeu como parece que pessoas assalariadas não tem o direito de terem momentos de infelicidade?). Eu já trabalhei numa grande rede de supermercados e putz. Aquilo lá é o inferno. Era um querendo derrubar o outro sem qualquer escrúpulo e ninguém se importa com ninguém e quando certo dia cheguei para comentar com um superior sobre como eu notei que as caixas trabalhavam sob pressão e que era preciso providenciar embaladores para ajudá-las sabem o que meu superior disse? Isso não é problema nosso! É problema delas e o que elas fazem é trabalho dela! E você deve cobrar sempre delas! É desumanidade pura! Pedi demissão na hora! Não li esse livro do Orwell ainda, já vai pra lista.

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    1. É triste, as pessoas são ensinadas para ter objetos, quanto mais, mais felicidade. Quase sempre é assim, você precisa se matar para conseguir seu pequeno salário e pagar todas as contas, chegar em casa sem muita alegria e ver que seu dinheiro não ajuda muito...

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