É ótimo ter um livro de qualidade, poder segurá-lo e
mais, poder ler. Desde a capa, Histórias
de monstros e diabruras já me conquistou. Apenas dois olhos ameaçadores, sobre
um fundo preto, fitando o leitor e o título em verniz transparente, sem nenhuma
fonte de outra cor delimitando onde ele seria aplicado, dando assim, um tom
mais sombrio. Lindo!
E as histórias... São todas muito bem escritas – somente
vi poucos erros de revisão, concordância e acentuação, mas nada que atrapalhe a
leitura –, carregadas de significados. O leitor mergulha, viaja até o local
ambientado e, somente quando é avisado de seu fim, na última página de cada
conto, consegue voltar ao local em que está, mas logo passa ao seguinte e tudo
se repete, uma nova viagem se inicia.
O básico a falar sobre a estrutura do livro é contar
sobre suas divisões, que são três, compostas por três contos cada:
Histórias de
animais medonhos
Histórias de
feitiços macabros
Histórias de
assombrações noturnas
Em Histórias de
animais medonhos, sem dúvida onde estão os melhores, o conto A Galinha Preta deixa com medo e horror,
através das narrativas do velho Caldeira, “fora
um tipo formidável de empregado. Mas, então, a idade avançada lhe permitia
apenas vigiar a Fazendinha dos Trevos. Era um velho solitário”. A galinha preta
era uma assassina, matara outras galinhas, arrancou a cabeça de todas e, o
velho contou, quem ouvisse seu canto morreria em treze dias.
Na Floresta –
numa grande dificuldade de escolha entre tantos bons, este é o melhor conto –, em
que pai e filho vão até ela em busca de seu alimento, mas precisam ficar atentos
a uma criatura que vive ali.
“Ouvi o grito pela
primeira vez e senti medo. Era uma espécie de urro curto, rouco e muito alto”.
Ela é medonha, e segundo dizem, come carne e os pedaços
que caem de sua boca permanecem em sua pelagem, por isso o mau cheiro terrível.
O desenrolar deixa o leitor tenso, angustiado, triste, cansado. Incrível!
O conto A Máscara em Histórias de assombrações noturnas, se
passa em “uma noite fria, Dia das Bruxas,
quando alguém bateu com força na porta dos Hangleton. Muito surpresos, o casal
de velhinhos apressou-se para abri-la”, lá estava uma caixa, com receio de
que fosse alguma brincadeira por conta do dia, abriram e se depararam com a
máscara, logo descobriram ser um presente de seu filho que estava na África.
Era um objeto de muito mau gosto, causava arrepios aos dois, e apesar do gesto bem
intencionado do filho, resolveram guardar no porão, mas a imaginação humana
pode pregar peças, a maldade também pode estar dentro de cada um e os dois
lados sofreria para sempre. Foi
complicado ler este à 1 hora da madrugada sem sentir medo e abaixar o livro
para olhar em volta para constatar que não havia sobre a cômoda uma máscara.
Em Mar de alma,
o capitão conta sua história triste de vida, e também precisa revelar um
segredo. “Não havia estrelas. Os homens
olhavam aturdidos para a escuridão da noite. O oceano, de tão sombrio,
confundia-se com a abóboda negra do céu, a não ser pelo leitoso nevoeiro que se
destacava entre os dois”.
O peso de não saber para onde se vai, caso algo aconteça,
estar tão próximo do inferno e não ter forças para desejar o céu.
“– A Morte, meus
caro, não é o maior dos problemas. Mas o sofrimento que advém antes e depois
dela”.
Tarsis Tindarsan, nascido em Manaus em 1983, soube narrar, conduzir seus personagens
e fazer com que o leitor se apaixone por cada conto, e deixo aqui a difícil
tarefa de escolher apenas um preferido, quem ler Histórias de monstros e diabruras está convidado a dividir sua
opinião sobre a sua favorita.
***** Breve Entrevista*****
Celly Borges: Fale um pouco sobre suas inspirações para escrever Histórias de Monstros e Diabruras.
Tarsis Tindarsam: Me inspiro sempre em contos
clássicos de crime e sobrenatural. Eu gosto de linhas alternativas de gênero e
linguagem, por isso também me inspiro no cinema. Posso dizer também sobre uma
série que assistia muito na adolescência, chamada ALÉM DA IMAGINAÇÃO,
histórias curtas, com surpresas ou finais arrebatadores. Mas algumas coisas do
meu cotidiano me fizeram escrever. Minha avó tem origens amazônicas, filha de
um mineiro com uma cearense, foi criada no interior da floresta amazônica, e
sempre contou muitas histórias para os netos. Aliás, minha família tem o dom de
contar e ouvir histórias bizarras, uma tendência que segui. De certa forma, o
sobrenatural sempre me rondou. Sonhos, calafrios, são coisas comuns na minha
vida. Nem uma das histórias que escrevi é real, a não ser os monstros (rsrsrs).
Esses últimos fazem parte da minha vida até hoje. Meus filmes prediletos sempre
foram aquele com lobisomens, alienígenas, espíritos, apesar de que tenho uma
tendência muito racional na Literatura, sempre gosto de explicar
cientificamente ou desmistificar a história que escrevo, isso acontece
geralmente no final. Fui muito influenciado pelos primeiros filmes de
Spielberg, mas também gosto de uma linha menos fantástica como Crichton (autor
de Jurassic Park), aliás, meu próximo livro será ao estilo dele, um terror
tecnológico. E tenho notado que não é o sobrenatural ou o racional que
descrevem meus escritos, mas o horror.
Muito boa a dica, e a capa é demais mesmo, super me interessei!
ResponderExcluiresse livro e interessante!!! gostaria muito de ler.
ResponderExcluirMaria, recomendo! =)
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