“Todos os
habitantes daqui conhecem pretensiosamente a boa música e livros de boas capas
não faltam nas bibliotecas residenciais, reluzindo em suas prateleiras. Alguns,
decorados em sequências inteiras (...). Acredito que as leituras exigem
responsabilidade. Não se pode decorar algumas páginas e dizer que se conhece um
livro. Heréticos”
Em A Última Carta
(Editora Biruta, 140 páginas, R$34) tem três formas de apresentação do texto, ora
o narrador (em primeira pessoa), ora as cartas e ora o diário de Luda fazem a
leitura fluir, pois é uma ideia diferente do comum e bem construída. Ligadas, explicam
o que ela e seu admirador secreto sentiam um pelo outro.
“Com era a indefinição
do tempo naquela casa quando eu estava ali. Poderia haver paixão entre nós. Impossível
saber se era a mesma paixão dos dias anteriores”, pág 69.
São usadas partes do diário escritas entre os anos de 1939
e 1961 para mostrar com certa lógica o que – e como – tudo aconteceu na vida
dessa mulher, que talvez pudesse ter uma vida normal, comum, mas ao
reestruturá-la temos uma Luda com muitas caras, várias expressões, não tão
comuns e que podem assustar.
Senti um peso, uma tristeza, no momento em que, num
trecho de seu diário, Luda conta que foi abusada pelo próprio pai e o descaso
da mãe – o que me fez lembrar um pouco de Rossana, do livro Distúrbio.
“Eu movia o corpo, buscando livrar-me daquele peso e erguer-me, mostrar um símbolo, a cruz em meu pescoço. Queria atirar uma prece, acreditar na salvação. Em vão. Eu jamais derrotaria aquele demônio (...). Eu sentia frio, estava hipnotizada, presa do torpor. Não sabia se estava desperta, confundia pesadelo e realidade, mas vi o invasor ir embora. Eu ia morrendo lentamente enquanto sentia o sangue escorrer em minhas pernas. Minha mãe veio e me convenceu que se tratava de um pesadelo e o sangue era da minha menstruação”
A história se passa no fim da Segunda Guerra Mundial e alguém
está com o diário de Luda, faz todas essas ligações e as possíveis reações aos
fatos, dos mais corriqueiros aos mais pesados.
Luda se mostra fria. Talvez a forma como fora criada
reflita em sua vida adulta e a transforme em alguém sem muito respeito pelo
próximo, somente desejando que seus caprichos sejam realizados. Em certa parte
não tem como continuar sentindo pena daquela menina-mulher, o sentimento se
transforma em algo ruim diante da frieza das mortes da mãe e do marido.
A decepção, a quase repulsa pela família talvez a fizesse
mais humana, e talvez a tornasse mais cruel.
“Nas ocasiões de seus noivados, minhas irmãs riam loucamente, saboreando joias e vestidos, enquanto meus pais aplaudiam e olhavam como raposas”
Esse é o primeiro romance de David Labs, e conseguiu
criar uma história que prende e faz o leitor querer saber quem narra, quem pode
ler o diário – os pensamentos de outra pessoa podem ser bastante cruéis para
quem os lê, deve-se esperar qualquer sentimento, qualquer reação, sem exceção.
E essa questão de descobrir quem conta a história se torna até mais importante,
mais necessário do que a vida da menina-mulher, prometida em casamento a um e
recebendo cartas anônimas de outro, e é esse justamente por quem se enamora e
sofre.
Há muitas ilustrações, na verdade tentativas, são
rabiscos que podem significar a confusão da personagem, algumas se sobrepõem e
podem ser interpretadas como uma agonia. Mas são apenas hipóteses.
As ilustrações |
As divisões dos capítulos |
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Editora:
Biruta
ISBN: 9788578480905
Ano: 2012
Páginas: 140
ISBN: 9788578480905
Ano: 2012
Páginas: 140
Não pensei que o livro fosse assim tão triste...
ResponderExcluirGosto de personagens que mudam ao longo da história, ou melhor, que fazem com que os nossos sentimentos em relação a ela mudem. Diagramação da Biruta, como sempre, linda.
Vai pra minha listinha (que não tem nada de inha) de futuras leituras :D
Olha, ele não demonstra ser tão forte assim, mas conforme lê, percebe cousas rsrsrs
ExcluirLeia! =)
Gostei, vou colocar na minha lista que também não é tão inha assim hahaha
ResponderExcluirAcho que nossas listas são bastante diferentes de "inhas", hein rsrs
ExcluirOi =D.
ResponderExcluirO livro parece bem legal, mas não gostei muito foi da capa, rs.
Bj!
www.falandodelivros.com