A mulher de preto é um desses livros que envolvem e caminha
lentamente, sem o exagero das histórias que querem assustar por assustar.
Aliás, esse clima de suspense poucos conseguem.
O livro é narrado por Arthur
Kipps, na verdade ele a escreve porque se sentiu impelido a contar tudo o que o
atormenta há muito tempo. Esse segredo horrível que guarda só para si e que o
consome todos os dias desde sua juventude.
Começa quando Kipps, advogado,
vislumbra uma possível promoção ao ser enviado para tratar dos documentos da
senhora Alice Drablow, que acabara de morrer. No entanto, quando chega à cidade
e comenta o motivo de sua visita, todos parecem se sentir incomodados. E
ninguém deseja falar sobre o assunto. Muito menos da mulher de preto.
Kipps se vê sozinho ali. Somente
conta com ajuda para ir e voltar da Casa do Brejo da Enguia, com sua atmosfera lúgubre,
o lugar que todos evitam.
O jovem então, como é comum dos
mocinhos, pensa que tudo não passa de crendice popular e decide desvendar o motivo
de tanto medo no povoado. No entanto, a mente humana nunca está preparada para
o surreal.
“Mas devo confessar que naquela época eu tinha o senso
de superioridade dos londrinos, a crença malformada de que os homens do campo,
e particularmente aqueles dos cantos remotos de nossa ilha, eram mais
supersticiosos, mais crédulos, mais lerdos, menos sofisticados e mais
primitivos do que nós, cosmopolitas.”
A mulher de preto (The woman
in black, Editora Record, 208 páginas) foi um desses livros que me chamam,
pois eu não tinha intenção em ler tão logo. Algo me afastava dele. Mas, um dia,
procurando uma leitura um pouco mais sombria, a obra pediu para ser lida (através
do programa Kindle Unlimited, da Amazon). Foi uma surpresa incrível,
ainda mais por saber que é de 1983 e nunca tinha ouvido falar do livro.
Provavelmente seu sucesso aqui se deve ao filme homônimo lançado em 2012, com
Daniel Radcliffe – o eterno Harry Potter – como Arthur Kipps, dirigido por
James Watkins.
Há uma segunda parte escrita em
2013 pelo autor Martyn Waites, que também virou filme, A mulher de preto 2 – Anjo da Morte (Woman in black: Angel of Death, Editora Record, 304 páginas). Não
tenho muita vontade de ler quando outra pessoa continua a história de outra.
Ainda estou em dúvida, apesar de ter lido resenhas positivas.
Bem, o único problema que encontrei
durante a leitura de A mulher de preto foi
“recolocou-os novamente”, “pequena saleta”, coisas que me incomodaram bastante.
Essas histórias, como a de A mulher de preto, são um tanto raras
hoje. Muitos autores (de livros e filmes) desejam o susto imediato, o medo
intenso e em tempo integral. Nada que chega devagar e se aloja sem que o
espectador perceba logo, que não o faça dormir por dias, pensado em: será que
vemos tudo o que está ao nosso redor? Será que conseguimos bloquear o que transcende
aquilo que conhecemos como realidade? O que nos espreita quando fechamos os
olhos para dormir?
Susan Hill (1942), uma apaixonada
por livros de terror, conseguiu criar uma ótima história de fantasmas como as
clássicas, do absurdo que povoa nossa mente, e nos faz olhar duas vezes para os
lados antes de dormir e querer cobrir os pés, pois parece que tudo está ali,
olhando num canto sombrio.
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ASIN: B00A6OF59G
Ano: 2012
Páginas: 208
Tradutor: Flávio Souto Maior
Título original: The woman in black
Editora: Record