17 de fev. de 2016

Resenha: A mulher de preto – Susan Hill


A mulher de preto é um desses livros que envolvem e caminha lentamente, sem o exagero das histórias que querem assustar por assustar. Aliás, esse clima de suspense poucos conseguem.

O livro é narrado por Arthur Kipps, na verdade ele a escreve porque se sentiu impelido a contar tudo o que o atormenta há muito tempo. Esse segredo horrível que guarda só para si e que o consome todos os dias desde sua juventude.

Começa quando Kipps, advogado, vislumbra uma possível promoção ao ser enviado para tratar dos documentos da senhora Alice Drablow, que acabara de morrer. No entanto, quando chega à cidade e comenta o motivo de sua visita, todos parecem se sentir incomodados. E ninguém deseja falar sobre o assunto. Muito menos da mulher de preto.

Kipps se vê sozinho ali. Somente conta com ajuda para ir e voltar da Casa do Brejo da Enguia, com sua atmosfera lúgubre, o lugar que todos evitam.

O jovem então, como é comum dos mocinhos, pensa que tudo não passa de crendice popular e decide desvendar o motivo de tanto medo no povoado. No entanto, a mente humana nunca está preparada para o surreal.
Mas devo confessar que naquela época eu tinha o senso de superioridade dos londrinos, a crença malformada de que os homens do campo, e particularmente aqueles dos cantos remotos de nossa ilha, eram mais supersticiosos, mais crédulos, mais lerdos, menos sofisticados e mais primitivos do que nós, cosmopolitas.

A mulher de preto (The woman in black, Editora Record, 208 páginas) foi um desses livros que me chamam, pois eu não tinha intenção em ler tão logo. Algo me afastava dele. Mas, um dia, procurando uma leitura um pouco mais sombria, a obra pediu para ser lida (através do programa Kindle Unlimited, da Amazon). Foi uma surpresa incrível, ainda mais por saber que é de 1983 e nunca tinha ouvido falar do livro. Provavelmente seu sucesso aqui se deve ao filme homônimo lançado em 2012, com Daniel Radcliffe – o eterno Harry Potter – como Arthur Kipps, dirigido por James Watkins.

Há uma segunda parte escrita em 2013 pelo autor Martyn Waites, que também virou filme, A mulher de preto 2 – Anjo da Morte (Woman in black: Angel of Death, Editora Record, 304 páginas). Não tenho muita vontade de ler quando outra pessoa continua a história de outra. Ainda estou em dúvida, apesar de ter lido resenhas positivas.

Bem, o único problema que encontrei durante a leitura de A mulher de preto foi “recolocou-os novamente”, “pequena saleta”, coisas que me incomodaram bastante.

Essas histórias, como a de A mulher de preto, são um tanto raras hoje. Muitos autores (de livros e filmes) desejam o susto imediato, o medo intenso e em tempo integral. Nada que chega devagar e se aloja sem que o espectador perceba logo, que não o faça dormir por dias, pensado em: será que vemos tudo o que está ao nosso redor? Será que conseguimos bloquear o que transcende aquilo que conhecemos como realidade? O que nos espreita quando fechamos os olhos para dormir?

Susan Hill (1942), uma apaixonada por livros de terror, conseguiu criar uma ótima história de fantasmas como as clássicas, do absurdo que povoa nossa mente, e nos faz olhar duas vezes para os lados antes de dormir e querer cobrir os pés, pois parece que tudo está ali, olhando num canto sombrio.

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ASIN: B00A6OF59G
Ano: 2012
Páginas: 208
Tradutor: Flávio Souto Maior
Título original: The woman in black
Editora: Record
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Este ebook foi emprestado no programa Kindle Unlimited, da Amazon.

4 comentários:

  1. Achei o livro ótimo, justamente porque vai envolvendo o leitor aos poucos (a névoa e a bruma são sufocantes!). Já o filme foi uma decepção porque contraria o clima do livro e apela para os sustos fáceis que você citou.

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    1. Não assisti ao filme ainda, mas que pena saber que ele é desse tipo, sustos pelos sustos... =/

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  2. Tem um Q interessante de A volta do parafuso, do Henry James. Gostei, apesar de não ter terminado acho que tem um time ótimo para o susto, sem exageros. Adorei a resenha, obrigada!

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    1. Peguei A volta do parafuso agora pensando exatamente nisso, que tem esse Q rsrs. Como gostei de A mulher de preto, queria algo parecido pra preencher o vazio.

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